PGR tentou livrar Bolsonaro do caso da falsa carteirinha de vacinação

Não haveria motivo para Bolsonaro falsificar cartão de vacina, diz defesa  do ex-presidente

A história política brasileira está recheada de momentos em que líderes nacionais lançaram mão do “eu não sabia de nada” para se afastar de escândalos e esquemas ditos criminosos. Quem nunca? No caso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) essa defesa é feita exatamente pelo órgão que deveria investigá-lo, a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Não é novidade que, durante todo o mandando do ex-capitão, a PGR lhe foi de extrema simpatia. Agora, no caso da fraude da carteirinha de vacinação, a solução encontrada pela Procuradoria foi usar outro meme, um imortalizado pelas histórias de suspense: culpar o “mordomo”.

De acordo com a decisão assinada e divulgada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), diferentemente da Polícia Federal, a PGR foi contra o mandado de busca e apreensão na casa da família Bolsonaro. Os dados falsos de vacinação foram inseridos, segundo a PF, para que Bolsonaro, seus assessores e até sua filha de 12 anos pudessem driblar as regras sanitárias do Brasil e dos Estados Unidos.

Bolsonaro impôs sigilo à carteirinha de vacinação e só nesta quarta-feira (3 de maio) foi claro em dizer que nunca se vacinou contra a Covid. Ele fez furiosa campanha contra a vacinação, divulgou notícias falsas sobre as vacinas, atrasou a compra dos imunizantes da Pfizer. Defensor da “liberdade” individual dos cidadãos que não quisessem se vacinar, o ex-presidente não se submeteu às sanções sanitárias a que todos os seus partidários foram submetidos, fosse para entrar no cinema, fosse para entrar nos Estados Unidos.

O aplicativo ConectSUS é de fácil manuseio e de acesso livre. Qualquer pessoa com um celular pode acessar os próprios dados. Ainda assim, Bolsonaro, tão interneteiro, “não sabia de nada”. Ou seja, o astuto ex-presidente nada sabia da trama urdida por seus auxiliares para promover uma fraude que o beneficiaria diretamente.

É difícil de acreditar. Mas a PGR não viu nada de errado. Para ela, “os elementos de informação incorporados aos autos não servem como indícios minimamente consistentes para vincular o ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro e a sua esposa, Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro, aos supostos fatos ilícitos descritos na representação da Polícia Federal, quer como coautores quer como partícipes.”