Lula sela paz com PSB em Pernambuco para pavimentar aliança nacional em 2022

Três homens de máscara trocam cumprimentos com as mãos

Em dois dias intensos de reuniões no Recife, o principal objetivo da visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi cumprido: selar a paz com o PSB em Pernambuco para pavimentar aliança nacional entre as duas siglas em 2022.

O ex-presidente também se sentou com líderes de partidos da base de sustentação de Jair Bolsonaro, mas que apoiam o governo do PSB em Pernambuco, além de conversar com deputados do PDT de Ciro Gomes e ir a um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

Lula deixou a capital pernambucana em direção a Teresina na manhã desta terça-feira (17) com o sentimento de que o caminho para o entendimento entre PT e PSB, assim como ocorreu em 2018, passa primordialmente por um acordo em Pernambuco.

Em jantar ocorrido no último domingo (15) no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, Lula deixou claro que a briga intensa na eleição municipal de 2020 entre os primos João Campos (PSB), prefeito do Recife, e a deputada Marília Arraes (PT), era um problema deles.

Campos se elegeu no segundo turno centrando força no discurso antipetista —disse que uma candidata do PT não poderia falar em corrupção.

“De fato, a campanha municipal de 2020 não foi fácil, foi muito radicalizada. Mas temos que entender que estamos em um outro momento da conjuntura que exige uma união dos partidos do campo progressista”, avalia a presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).

Lula ressaltou que, historicamente, PT e PSB sempre tiveram mais convergências do que divergências. No encontro, não se falou de composição de chapas, mas, ao dizer que estava disposto a ser candidato a presidente, o petista fez questão de ponderar que “não ficaria com raiva” se os socialistas tivessem nome próprio na disputa presidencial.

Ao mesmo tempo em que sinaliza com uma composição em Pernambuco apoiando a candidatura do PSB ao governo do estado, a maior estrela petista tem estimulado, nos bastidores, nomes como o do senador Humberto Costa (PT-PE) a colocar o bloco na rua de maneira a pressionar os socialistas.

O senador petista recebeu diversos afagos públicos do ex-presidente na agenda em Pernambuco. Com a proximidade de PT e PSB no estado, Marília tende a ficar mais isolada dentro do partido.

Na conversa com o governador Paulo Câmara (PSB), João Campos e deputados federais, o entendimento alcançado em 2018 foi lembrado como fator positivo. O governador abriu a conversa agradecendo ao ex-presidente pelo apoio.

Naquele ano, o PT, após estimular a candidatura de Marília contra Câmara, retirou o nome dela para apoiar o governador em troca da neutralidade do PSB no pleito presidencial.

O PSB pernambucano, depois de apoiar Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da disputa presidencial de 2014 e o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, acabou caminhando ao lado do petista Fernando Haddad em 2018.

O movimento foi crucial para isolar Ciro Gomes, que terminou em terceiro lugar. Nas eleições municipais de 2020, PSB e PDT fecharam dobradinhas em oito capitais.

No jantar de domingo, Lula inclusive disse que, se Ciro quiser brigar, ele briga dez minutos, os dois falam impropérios de cada lado e depois precisam se entender.

O exemplo foi dado para dizer, de outra maneira, que o adversário comum era Bolsonaro.

Folha de São Paulo