Homenageado pela Copa do Nordeste, Lampião nunca jogou futebol

Lampião virou símbolo da Copa do Nordeste - Benjamin Abrahão/Biblioteca NacionalVirgulino talvez nunca pensasse que seu nome transcenderia o seu tempo. Claro que sempre trabalhou para eternizar o personagem, divertindo-se ao dar entrevistas para jornais, sendo fotografado ou mostrando a rotina do seu bando. Era amigo de Padre Cícero, de coiteiros e estampou o nome que até hoje lhe garante fama no jornal “The New York Times”. Até sua cabeça gerou comoção nas cidades em que passou, naquele formato de bola, machucada. Abaixo de si, o nome que às vezes ainda é sussurro nos interiores do Nordeste. Lampião.

Ele, que talvez nunca tenha tido contato com futebol, recebe homenagem da maior competição regional. A Copa do Nordeste, carinhosamente apelidada de Lampions League, faz jus ao mito de Lampião, mas não ao homem que foi Virgulino. Uma figura que representa o Nordeste em suas feições, nas formas de se vestir, na coragem e na força de homens e mulheres que não poderiam se abalar. Mas, claro, também é um personagem que guarda para sempre a pergunta: herói ou vilão?

Consciente de suas habilidades e da falta de lei, no meio do coronelismo, Virgulino tornou-se Lampião como consequência do contexto político em que vivia. Tinha-se seca, impunidade. Tinha-se, sem dúvidas, o maior líder da região. Para internacionalizá-lo, talvez Lampião fosse um Robin Hood verdadeiramente humano – com falhas, acertos, brutalidade, violência e todos os elementos que o nome lhe remeta.

O nome, no entanto, virou uma forma de o povo nordestino se identificar com a competição, tanto que o símbolo da Copa é um chapéu de vaqueiro, que foi utilizado e ornamentado por Lampião durante sua vida, até ser emboscado na Grota do Angico, em Sergipe, e morto por uma volante (grupo de policiais militares dedicados a caçar cangaceiros). A Copa do Nordeste usa vários elementos que remetem à região.

Mesmo sem ligação com o futebol, o cangaceiro mais conhecido do nordeste dá apelido a agora uma das maiores competições regionais do país. Em 2021, o Nordestão provou sua força ao se manter firme em meio a restrições impostas por governos estaduais na tentativa de frear o avanço da covid. Tal situação fez o torneio atrair mais olhares da imprensa e dos próprios torcedores durante o primeiro quadrimestre de 2021.

A Lampions chega nesse sábado (8), à sua 17ª decisão, tendo Bahia e Ceará como protagonistas, após vitória por 1 a 0 do Vozão no primeiro jogo da final. As duas equipes reeditam a decisão do ano passado quando os cearenses conquistaram o troféu. O maior vencedor da competição é o Vitória, com quatro títulos.